A demência por Corpos de Lewy (DCL) constitui uma síndrome neuropsiquiátrica degenerativa primária que cursa com sintomas cognitivos, motores, psiquiátricos e autonômicos. Confira a seguir um caso clínico e saiba como essa condição age em pacientes idosos.
Caso clínico – Demência por Corpos de Lewy
Paciente, 78 anos, sexo feminino, procurou o ambulatório com queixa de alterações na memória recente, seguido de alteração de marcha e equilíbrio de início insidioso, mal caracterizado pela família. Negava alterações urinárias.
Histórico médico
Na história médica pregressa apresentava:
- Hipertensão arterial sistêmica com lesão de órgão alvo:
- Insuficiência cardíaca (IC) sistólica classe II (NYHA) compensada
- Em uso de betabloqueador, propranolol, inibidor da enzima conversora de angiotensina, enalapril, diurético tiazídico, hidroclorotiazida e antiagregante plaquetário, ácido acetilsalicílico
- Diabetes mellitus:
- Lesão macrovascular: IC sistólica
- Lesão microvascular: retinopatia diabética, neuropatia diabética
- Em uso de insulina humana NPH
- Depressão maior: eutímica em uso de antidepressivo tricíclico, amitriptilina
- Independente para atividades básicas e dependente parcial para atividades instrumentais de vida diária.
- Relato de quedas com fratura de colo de fêmur previamente
- Osteoporose em uso de bifosfonato, alendronato de sódio
- Osteoartrose de joelhos em uso de analgésico não opióide, paracetamol, quando necessário.
Sobre o exame físico
O exame físico dos aparelhos respiratório e digestivo não apresentava alterações. Além disso, exame do aparelho cardiovascular apresentava PA 120x70mmHg e FC de 64bpm em decúbito e PA 90x60mmHg em ortostatismo.
Sobre o exame do sistema nervoso
O exame do sistema nervoso apresentava:
- Discreta bradicinesia e tremor à direita.
- Ausência de rigidez.
- Sem déficits neurológicos focais.
- Marcha com pequenos passos com alteração de equilíbrio.
- A avaliação cognição apresentava mini exame do estado mental: 22/30 (escolaridade> 8 anos), teste do relógio alterado e fluência verbal alterada
- A rotina básica de sangue estava dentro da normalidade, exceto
- Glicemia: 232 mg/dL (VN: 70-99)
- Glicohemoglobina: 7,8%
O eletrocardiograma apresentava ritmo sinusal regular com extra-sístoles supraventriculares ocasionais.
O ecocardiograma transtorácico apresentava FE 45% e hipocinesia leve de VE.
Radiografia
A radiografia de tórax mostrava aumento da área cardíaca. Além disso, a ressonância nuclear magnética encefálica acusava redução volumétrica encefálica difusa, sem outras alterações.
Diagnóstico
Assim, a impressão diagnóstica inicial foi:
- Déficit cognitivo + parkinsonismo de etiologia a esclarecer.
- Efeito colateral de medicamentos: hipotensão ortostática secundária a antidepressivo tricíclico (amitriptilina) e diurético tiazídico (hidroclorotiazida)
Tratamento
A conduta inicial foi a suspensão da amitriptilina e hidroclorotiazida e iniciado antidepressivo dual (duloxetina). Após 40 dias a paciente se encontrava eutímica e com remissão completa dos episódios de hipotensão ortostática.
Entretanto, no período entre as consultas, a paciente apresentou quadro persistente de alucinações visuais: enxergava insetos subindo pela porta do seu quarto.
Assim a impressão diagnóstica final foi de demência por Corpos de Lewy devido à combinação de déficit cognitivo, parkinsonismo e alucinações visuais persistentes.
Foi então iniciado inibidor de colinesterase com melhora das alucinações. A DLC é a segunda causa de demência degenerativa, representando cerca de 15% dos casos. É mais comum no sexo masculino.
Diagnóstico
Critérios maiores:
- Alucinações visuais rescidivantes
- Flutuação cognitiva acompanhada de variações na atenção e na concentração
- Parkinsonismo espontâneo
- Na presença de 1 critério maior: possível DCL
- Na presença de 2 critérios maiores: provável DCL
Critérios menores:
- Quedas repetidas
- Síncope
- Perda transitória da consciência
- Sensibilidade a antipsicóticos
- Ideias delirantes
- Outras formas de delírio (olfativo, auditivo, tátil)
O déficit cognitivo deve preceder ou ocorrer simultaneamente ao parkinsonismo. Quando o intervalo entre o início dos sintomas de parkinsonismo e a demência é inferior a um ano, o paciente deve ser investigado para o diagnóstico de doença de Parkinson.