A desordem afetiva sazonal corresponde a episódios de depressão maior, mania ou hipomania que ocorrem durante determinadas estações do ano.

O tipo mais comum é a depressão sazonal de inverno caracterizada por episódios recorrentes de depressão unipolar que começam no outono/inverno e, se não tratada, melhoram durante a primavera/verão.

A patogênese da desordem afetiva sazonal é desconhecida. As principais hipóteses envolvem:

• Distúrbios do ciclo circadiano
• Diminuição da sensibilidade da retina
• Fatores genéticos
• Desregulação de neurotransmissores.

Para saber mais sobre a depressão sazonal, leia o caso clínico abaixo:.

Depressão sazonal: caso clínico

Um paciente de 64 anos, do sexo masculino, procurou o ambulatório relatando que nos últimos 5 anos, anualmente, visita o filho que reside em Estocolmo, na Suécia. Usualmente permanece por cerca de 2-3 meses, sempre no período de dezembro a fevereiro. 

Apesar da companhia do filho e a viagem ser sempre muito almejada, não entende o porquê apresenta baixa de humor, desânimo, sonolência exagerada, aumento do apetite e ganho de peso enquanto no exterior. Os sintomas melhoram gradualmente após o retorno ao Brasil.

Na história médica pregressa apresentava hipertensão arterial sistêmica em uso de diurético tiazídico, clortalidona, hérnia de hiato com doença do refluxo gastroesofágico em uso de inibidor de bomba de próton, pantoprazol e os osteoartrose do primeiro artelho (halux rígidus). 

Não havia relato de distúrbio do humor ou déficit cognitivo prévio e vivia uma vida independente na comunidade.

O exame físico dos aparelhos cardiovascular, respiratório, digestivo e neurológico não apresentava alterações. 

O rastreio cognitivo através do mini exame do estado mental estava normal (30/30, escolaridade > 8 anos).

Na avaliação do humor pontuava 3/15 na Escala de Depressão Geriátrica (GDS) (valor de referência > 5 suspeita de depressão) e não preenchia critérios para depressão maior de acordo com o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5.ª edição).

A seguinte propedêutica foi realizada:

• A rotina básica de sangue estava dentro da normalidade.
• O eletrocardiograma mostrava ritmo sinusal regular, com intervalo QT dentro da normalidade.
• Os exames de imagem (radiografia de tórax e tomografia de crânio) estavam normais.

Impressão diagnóstica

A impressão diagnóstica foi de depressão maior unipolar com padrão sazonal.

O paciente foi então esclarecido acerca do distúrbio do humor relacionado com a estação do ano (inverno), ou seja, depressão sazonal. Foi recomendado visitar o filho durante o verão europeu, entretanto, por suas atividades laborais, não seria possível. Então, foi prescrito antidepressivo inibidor seletivo da recaptação de serotonina sertralina para ser iniciado dois meses antes da próxima viagem.

Após um ano o paciente comunicou, por telefone, ter seguido as orientações, com melhora importante dos sintomas depressivos durante a viagem para Europa.

Dois padrões de depressão maior unipolar com padrão sazonal são descritos:

• Início no outono-inverno: 
  • Os episódios depressivos principais começam no outono/inverno e, se não forem tratados, geralmente melhoram durante a primavera/verão. 
  • Estes episódios são geralmente caracterizados por aumento do sono, aumento do apetite, desejo por carboidratos e aumento de peso. 
  • Os sintomas depressivos podem ocorrer durante o verão, se a exposição à luz ambiente for reduzida (ex: tempo persistentemente nublado)
• Início na primavera-verão: 
  • Os principais episódios depressivos começam na primavera ou no verão e melhoram durante o próximo outono e inverno. 
  • Esses episódios geralmente são marcados por sintomas típicos de depressão como insônia, diminuição do sono, diminuição do apetite e perda de peso.

Critérios diagnósticos

Os critérios diagnósticos do DSM-V para depressão maior unipolar com padrão sazonal são:

• Relação temporal com um período específico do ano e o início dos sintomas do transtorno depressivo maior (TDM).
• Remissão total em um período específico do ano.
• Em pelo menos dois anos ocorram dois episódios de TDM obedecendo ao padrão temporal dos itens acima e sem episódios de TDM não sazonais.
• Ao longo da vida do indivíduo os episódios de TDM sazonais são mais numerosos do que os não sazonais.

Quanto ao tratamento, o reconhecimento do transtorno afetivo sazonal é importante não só pela sua prevalência, mas também pelo prejuízo psicossocial que acarreta.

O tratamento agudo é frequentemente efetivo e o tratamento de manutenção pode prevenir novos episódios. 

Cerca de 60% dos pacientes com depressão sazonal de inverno nunca receberam tratamento.

Na depressão sazonal do inverno as opções terapêuticas são:

• Antidepressivos associados a fototerapia constitui o tratamento de primeira escolha. 
• Antidepressivos empregados de forma isolada podem ser uma escolha razoável.
• Terapias adjuvantes: higiene do sono, caminhadas durante o dia, exercício aeróbico

Na depressão sazonal do verão: tratamento semelhante a depressão maior unipolar.