A marcha normal depende do funcionamento dos sistemas nervoso, osteomuscular, circulatório e respiratório de forma altamente coordenada.
A relação entre a deambulação e o estado de saúde é de tal ordem que justifica a afirmativa: “a maneira como andamos revela como somos” (KEANE, 1989). O exame da marcha pode ser considerado o melhor teste isolado da função neurológica.
A capacidade de caminhar por 6 minutos correlaciona-se bem com a função cardíaca e pulmonar, sendo que a incapacidade de o fazer é preditor de morbimortalidade em pacientes com disfunção ventricular esquerda.
Os pacientes com história de quedas atribuídas a marcha têm maior probabilidade de apresentarem hipodensidades identificadas em exame de imagem cerebral.
Pequenas lesões vasculares e atrofia cerebral são preditores independentes de transtornos da marcha, mesmo sem sinais ou sintomas proeminentes.
Entre as causas mais comuns de alterações da marcha merecem destaque os transtornos sensoriais, mielopatia, múltiplos infartos e doença de Parkinson.
O exame do equilíbrio e da marcha
Incapacidade para levantar-se de uma cadeira:
- Indicativo de alteração do equilíbrio por diversas causas, como doença dos gânglios da base.
- Fraqueza da musculatura do quadril e coxa.
Incapacidade para permanecer “em pé”:
- Os pacientes tendem a flexionar o joelho se não forem apoiados.
- A capacidade para permanecer na postura ereta mantendo os olhos fechados (teste de Romberg) é um indicador de integridade do controle proprioceptivo e vestibular, apesar da dificuldade em reproduzir esse teste em pacientes idosos, particularmente muito idosos.
- Também comum em lesões dos gânglios da base.
Capacidade de suportar um empurrão no tórax (teste esternal):
- Identifica a efetividade das reações posturais, quando apenas o deslocamento do tórax está presente.
- Quando o paciente é incapaz de desencadear estes reflexos posturais, o teste também é útil para avaliar as reações compensatórias como dar um-passo-atrás, abrir os braços e reações de proteção. Nestas o paciente, diante da possibilidade iminente de queda, tende a proteger o rosto com os braços
Capacidade para iniciar a marcha:
- O paciente não consegue dar o primeiro passo e permanece arrastando os pés no mesmo lugar.
- Se o paciente consegue iniciar a marcha, ela pode ser interrompida abruptamente, como se o paciente “congelasse”.
Isto ocorre quando o paciente tenta “dar meia volta” ou se tenta passar por um local mais estreito, como uma porta. Pode ocorrer na hidrocefalia de pressão normal, doença cérebro-vascular ou alguma degeneração cortical focal.
Capacidade para locomover:
- Tanto quanto possível o examinador deve estar atento a velocidade, à base de suporte e a regularidade do passos.
- O paciente que se move com passos curtos e velocidade proporcionalmente elevada, pode apresentar um transtorno ao nível dos gânglios da base.
- O paciente com a marcha lenta e passos curtos têm maior chance de ser portador de transtornos que comprometam a oferta de energia (cardiopatia, dificuldade respiratória, anemia), transtornos metabólicos (hipotireoidismo grave) ou ainda dificuldade na mobilização muscular (doenças musculares).
- Pacientes com doença de Parkinson podem apresentar festinação (variações na aceleração).
Capacidade para dar “meia-volta”:
- Esta é uma operação que causa grande instabilidade e pode identificar pacientes com desequilíbrio.
- Pode desencadear “congelamento” da marcha e fazer com que o paciente não consiga desencadear os passos, retomando ao padrão de arrasto dos pés, como se estivesse aderido ao piso.
- A realização de “meia-volta” pode também desencadear reflexos de proteção.
A capacidade de andar pé-ante-pé:
- Avalia os reflexos posturais e as reações de proteção.
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