O exame físico do idoso apresenta peculiaridades que o distingue das pessoas mais jovens. Portanto, nesse artigo, vamos destacar algumas das principais alterações observadas no aparelho cardiovascular. Em breve apresentaremos as alterações do aparelho digestivo e urológico e membros inferiores.
1.Peculiaridades do exame físico do idoso – Pressão arterial (PA):
a) Variabilidade da pressão arterial:
Na idade avançada, muitas vezes são necessárias diversas mensurações, pois a variabilidade da PA aumenta com a idade.
b) Mensuração em ambos os membros superiores:
Recomenda-se mensurar a PA em ambos os braços. Caso haja variação de uma medida para outra, considera-se o mais alto valor encontrado, visto que o mais baixo resulta de fenômenos ateroscleróticos que mascaram a PA real.
c) Hiato auscultatório:
O hiato auscultatório consiste no desaparecimento dos sons na ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase 1 e o início da fase 2 dos sons de Korotkoff. Esse achado pode subestimar a verdadeira pressão arterial sistólica (PAS) ou superestimar a pressão arterial diastólica (PAD).
Evita-se esse erro insuflando-se o manguito até níveis de PAS nos quais há o desaparecimento do pulso à palpação.
d) Pseudo-hipertensão
A pseudo-hipertensão decorre de artefato resultante do endurecimento das paredes das artérias periféricas, que promove falsa estimativa da PA à esfigmomanometria.
Esse diagnóstico é sugerido em indivíduos, em geral idosos, com níveis pressóricos elevados e ausência de lesão em órgãos-alvo e que apresentam artérias dos braços calcificadas, que podem ser identificadas à palpação e/ou ao exame radiológico.
O sinal de Osler consiste na detecção de artérias palpáveis, quando o esfigmomanômetro encontra-se insuflado em nível superior ao da PAS. Esse sinal auxilia na identificação da pseudo-hipertensão.
e) Hipotensão ortostática (HO):
A HO pode subestimar a PAS, caso a sua mensuração seja feita somente na posição assentada.
Aconselha-se para todos os idosos a aferição da PA em decúbito e em ortostatismo.
A HO pode ser classificada de acordo com a variação da frequência cardíaca (FC), observada quando o paciente assume a posição ortostática:
I. HO simpaticotônica:
Ocorre resposta cardíaca compensatória apropriada (aumento da FC em até cerca de 20 bpm).
Esse tipo de HO encontra-se, em geral, associado ao descondicionamento físico, uso de medicamentos ou à hipovolemia.
II. HO por disfunção autonômica:
Não ocorre aumento da FC com a queda postural da PA ou, se ocorre, em geral não é superior a 10 bpm.
III. HO por distúrbio vagal:
Ocorre diminuição da FC associada à queda postural da PA.
2.Peculiaridades do exame físico do idoso – Pulso arterial:
Em idosos, o pulso parvus et tardus, encontrado nos casos de estenose aórtica, é mascarado pelo endurecimento das paredes arteriais e pela presença de fibrilação atrial (FA). Ao contrário, os sinais periféricos da insuficiência aórtica são de fácil reconhecimento.
3.Peculiaridades do exame físico do idoso – Ictus cordis ou choque da ponta:
Embora importante na avaliação de pacientes jovens, o ictus cordis é palpado em 35% dos idosos hospitalizados. Torna-se, com o avançar dos anos, cada vez mais difícil a sua palpação, particularmente em pessoas com 80 anos ou mais.
A sua sensibilidade e especificidade, mesmo quando palpáveis, são baixas como índice de cardiomegalia, se comparadas à radiografia do tórax e ao ecocardiograma.
Os distúrbios músculo-esqueléticos frequentes no idoso, como a cifoescoliose e o enfisema pulmonar, afetam a sua localização. Deste modo, na idade avançada, o ictus cordis não constitui marcador clínico confiável na avaliação da área cardíaca. Esses mesmos fatores referidos dificultam a palpação de bulhas e frêmitos nos idosos.
4.Peculiaridades do exame físico do idoso – Ausculta cardíaca:
a) Bulhas cardíacas:
I. Terceira bulha
A terceira bulha pode ser de difícil detecção, pela existência de enfisema pulmonar e de escoliose.
É sempre patogênica no idoso e indicador confiável de insuficiência ventricular esquerda.
II. Quarta bulha
A quarta bulha pode ser detectada em até 94% dos idosos, independentemente da presença ou não de cardiopatia.
Tem seu valor limitado no diagnóstico das doenças cardíacas no idoso, sendo considerada até como fisiológica na velhice.
5.Peculiaridades do exame físico do idoso – Sopros cardíacos:
A prevalência de sopros sistólicos na população idosa é de cerca de 60%.
Decorrem principalmente da doença valvar calcificada, sendo a valva aórtica e a mitral as mais comumente afetadas.
É importante lembrar que diante de comprometimento da função ventricular há diminuição da intensidade dos sopros, dificultando o diagnostico das disfunções valvares.
a) Estenose aórtica
O sopro sistólico da estenose aórtica é frequentemente menos intenso em idoso e pode ser confundido com o da regurgitação mitral.
b) Estenose mitral
A estenose mitral oculta com primeira bulha suave devido à calcificação valvar e sopro diastólico inaudível devido a baixo débito cardíaco, FA, enfisema ou deformidade da parede torácica pode representar desafio diagnóstico em geriatria.
c) Prolapso mitral
O prolapso de valva mitral pode originar importante regurgitação mitral. O sopro característico que a acompanha caracteriza-se como meso a telessistólico e em homens idosos a regurgitação é comumente holossistólica.
d) Regurgitação tricúspide
A etiologia usual para esse tipo de sopro, em idosos, decorre de cor pulmonale secundário a DPOC, miocardiopatias dilatadas e raramente à embolia pulmonar.
6.Peculiaridades do exame físico do idoso – Edema sacral:
Pode ser a única manifestação de insuficiência cardíaca congestiva em idosos restritos ao leito, sendo sinal frequentemente negligenciado.
Confira os demais artigos sobre as peculiaridades do exame físico do idoso.