As ideias delirantes são definidas como um julgamento incorreto da realidade que é firmemente mantido apesar de evidências contrárias. São ideias não bizarras, ou seja, ideias sobre situações que podem ocorrer na vida real e não atribuíveis a outros distúrbios psiquiátricos.

O início pode ser agudo, após um evento precipitante ou gradual e tornar-se crônico. 

Em geral, os pacientes com ideias delirantes apresentam leve alteração no comportamento e na clareza do pensamento.

Na idade avançada, as ideias delirantes podem ser secundárias a diferentes condições neurológicas, psiquiátricas, endócrino-metabólicas, infecciosas e/ou ao uso de drogas. 

Ideias delirantes no idoso: caso clínico

Um homem de 76 anos foi admitido no hospital com quadro de hemiparesia leve à direita com completa resolução em seis horas. Relatou a ocorrência de dois episódios similares previamente.

A esposa relatava que o marido estava plenamente convencido de estar contaminado com o vírus HIV. A contaminação teria ocorrido após uma noite de celebração do seu 74º aniversario, da qual ele não tinha nenhuma recordação.

Nos dezoito meses subsequentes ficaram evidentes importantes alterações na sua personalidade, caráter e comportamento, o que foi atribuído à sua convicção de estar contaminado com o vírus HIV.

Na história médica pregressa apresentava hipoacuidade visual secundária a catarata bilateral, hérnia de hiato por deslizamento com passado de esofagite erosiva em uso de inibidor de bomba de prótons, pantoprazol e osteoartrose sintomática da coluna cervical em fisioterapia. 

Não havia relato de distúrbio do humor ou déficit cognitivo prévio e vivia uma vida independente na comunidade.

O exame físico dos aparelhos cardiovascular, respiratório, digestivo e neurológico não apresentava alterações. 

O rastreio cognitivo através do mini exame do estado mental estava normal (30/30, escolaridade > 8 anos).

A seguinte propedêutica foi realizada:

• A rotina básica de sangue estava dentro da normalidade, incluindo anti-HIV 1 e 2 negativos.
• O eletrocardiograma mostrava ritmo sinusal regular, com intervalo QT dentro da normalidade.
• A tomografia computadorizada de crânio mostrava grande meningioma frontoparietal à esquerda associado a edema intracerebral, causando importante desvio da linha média dos conteúdos intracranianos e ausência de lesões vasculares.
• A ressonância nuclear magnética encefálica confirmou os achados da tomografia computadorizada.

A impressão diagnóstica foi de meningioma frontoparietal à esquerda apresentando-se com manifestações psiquiátricas (ideias delirantes).

O paciente foi encaminhado para a neurocirurgiae realizou ressecção do tumor com sucesso. 

Após a cirurgia as ideias delirantes desapareceram por completo e o paciente não mais apresentou queixas que atribuía a contaminação pelo vírus HIV.

Ideia delirantes no idoso: principais diagnósticos diferenciais

Os principais diagnósticos diferenciais das  idéias delirantes incluem:

• Demência de diferentes etiologias: na demência de Alzheimer, as ideias delirantes são predominantemente crenças paranóides simples não sistematizadas, como acusar os cuidadores de roubo ou de serem pouco sinceros. As mais sistematizadas tornam-se menos comuns à medida que a doença progride.
• Depressão: quando presentes, as ideias delirantes refletem o humor do paciente (ideias congruentes com o humor).
• Distúrbio bipolar: nos episódios de mania as ideias delirantes são sempre grandiosas e congruentes com o humor. 
• Esquizofrenia: as ideias delirantes são bem estruturadas, as alucinações proeminentes e há relativa preservação da personalidade e humor.
• Síndrome de Capgras (delírio de substituição): o paciente geralmente acredita que um familiar foi substituído por um sósia. Ocorre, particularmente, na esquizofrenia, depressão psicótica e demência.
• Drogas:
  • Antiparkinsonianos, anticolinérgicos, álcool e antidepressivos tricíclicos.
• Tumores cerebrais: apesar de incomuns, as ideias delirantes podem ser manifestações de tumores cerebrais, como no caso apresentado, regredindo totalmente com a sua ressecção.
  • As ideias delirantes como sintoma único de neoplasia cerebral são consideradas incomuns
  • Os tumores supraorbitais e em região frontal inferior podem causar desinibição.
  • Os tumores da região frontal superior podem crescer substancialmente com pouca ou nenhuma manifestação clínica. Pode haver retardo psicomotor..

Esperamos que este conteúdo sobre ideias delirantes no idoso tenha sido útil.