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    Alucinações Visuais no idoso: se familiarize sobre o assunto através de um caso clínico

    Alucinações Visuais no idoso: se familiarize sobre o assunto através de um caso clínico

    As alucinações visuais em idosos podem ser secundárias a diversas causas, saiba mais sobre o assunto através do caso clínico descrito abaixo. 

    Alucinações visuais no idoso: caso clínico

    Paciente de 79 anos, do sexo masculino, informava estar vendo pessoas caminhando em torno da sua casa pelo menos duas vezes ao dia. 

    Descrevia essas pessoas como pardas, altas e bem vestidas. Embora importunado com a presença destes indivíduos, estes não o causam medo, e ele nem se sentia perseguido por eles, mas algumas vezes tentou afastá-los.

    Na história médica pregressa apresentava hipertensão arterial sistêmica em uso de bloqueador dos canais de cálcio (anlodipina), doença do refluxo gastroesofágico em uso de inibidor de bomba de prótons (omeprazol) e catarata bilateral com importante déficit visual. 

    Não havia relato de distúrbio do humor ou déficit cognitivo prévio e vivia uma vida independente na comunidade.

    O exame físico dos aparelhos cardiovascular, respiratório, digestivo e neurológico não apresentava alterações. 

    O rastreio cognitivo através do mini exame do estado mental estava normal (30/30, escolaridade > 8 anos).

    A avaliação psíquica não relatava ideias delirantes, alucinações em outras áreas ou sintomas depressivos. O paciente preservava o seu insight e não negava a possibilidade das visões serem fruto da sua imaginação. Estava bem orientado, sem déficits de concentração e/ou de memória. 

    A seguinte propedêutica foi realizada:

    • A rotina básica de sangue estava dentro da normalidade.
    • O eletrocardiograma mostrava ritmo sinusal regular, com intervalo QT dentro da normalidade.
    • A ressonância nuclear magnética encefálica não apresentava alterações.
    • O eletroencefalograma (EEG) foi normal.

    Impressão diagnóstica 

    A impressão diagnóstica foi de alucinações visuais de etiologia a esclarecer.

    Principais diagnósticos diferenciais de alucinações visuais em idosos:

    • Doenças psiquiátricas: esquizofrenia, distúrbio bipolar
    • Doenças neurológicas: demências de Alzheimer, vascular e/ou de corpos de Lewy, doença de Parkinson, epilepsia, acidente vascular cerebral, lesão expansiva cerebral, arterite temporal, esclerose múltipla.
    • Delirium secundário a diferentes etiologias.
    • Medicamentos: antiparkinsonianos, anticolinérgicos, corticoesteroides, benzodiazepínicos, opiáceos, barbitúricos.
    • Intoxicação e abstinência alcoólica.
    • Luto.
    • Doenças oftalmológicas: degeneração macular, glaucoma, catarata, deslocamento de retina e lesões do trato ótico.
    • Síndrome de Charles Bonnet.

    Impressão diagnóstica final e conduta

    A impressão diagnóstica final foi de Síndrome de Charles Bonnet.

    O paciente foi então submetido a cirurgia de catarata bilateral com melhora significativa do quadro alucinatório visual.

    A Síndrome de Charles Bonnet é caracterizada por alucinações visuais complexas que ocorrem na vigência de déficit visual e na ausência de distúrbio neuropsiquiátrico. Os pacientes têm consciência da natureza irreal destes fenômenos.

    A prevalência aumenta progressivamente com a idade, proporcionalmente ao aumento de déficit sensorial visual,com pico entre 70 e 93 anos. Não há diferença entre os sexos. 

    As alucinações visuais na síndrome de Chales Bonnet são tipicamente complexas, usualmente bem formadas e frequentemente envolvem homens, animais e figuras com cores vivas. 

    Os episódios duram segundos a poucas horas e não são acompanhados de alucinações em outras modalidades sensoriais.

    Os principais fatores de risco são idade avançada, déficit visual e isolamento social.

    O tratamento das alucinações atribuídas a Síndrome de Charles Bonnet podem desaparecer completamente ou parcialmente após a correção do déficit visual. Os antipsicóticos nem sempre apresentam resposta adequada. 

    Existe alguma evidência que a Síndrome de Charles Bonnet possa constituir um marcador inicial de demência.

    Autor:

    Equipe iGeriatria

    Equipe iGeriatria

    Doutor Ulisses Gabriel de Vasconcelos Cunha e Doutor Frederico Brina Corrêa Lima de Carvalho
    Dr. Ulisses Gabriel de Vasconcelos Cunha
    Membro Pesquisador Honorário em Medicina Geriátrica pela Universidade de Birmingham - Inglaterra

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